Lenirce Viviani

Psicóloga Clínica - CRP 12/01171

​(48) 98403-7458

Autoestima e Motivação

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Por Lenirce Viviani e Suzana Bertoncini

 

Repete-se continuamente que não é possível “motivar” outras pessoas, pois a motivação é fruto dos desejos e interesses que cada um de nós necessita ou elege para si. Porém, ninguém nega que bons ambientes familiares ou profissionais, tem o papel de nos proporcionar um refúgio para as dificuldades diárias e para lidar com as pressões a que normalmente somos expostos no trabalho.

Infelizmente, nem sempre está fórmula funciona tão bem assim. Sabemos que a forma como nos relacionamos, seja nos locais de trabalho, seja nas relações pessoais, podem terminar por ser um importante fator “desmotivador” para nós mesmos, bem como para nossos parceiros de caminhada. E estas são geralmente as queixas que chegam aos setores de apoio ao funcionário nas organizações e, não raro, também aos consultórios particulares dos psicólogos.

Concentraremos-nos aqui nos ambientes profissionais. Sabemos que muitas variáveis estão envolvidas no processo que possibilita manter um bom ambiente de trabalho. Muitas delas dizem respeito às empresas, sua organização ou a política adotada em relação a seus colaboradores. Outras, dizem respeito ao contexto social mais amplo, como a influência que fatores sócio-econômicos podem exercer na qualidade de vida dos cidadãos a eles vinculados. Contudo, não podemos deixar de apresentar as situações que estão relacionadas à formação bio-psico-social de cada pessoa, como suas crenças, seus valores, suas expectativas, tanto em relação à organização e aos seus colegas de trabalho, como em relação a si mesma.

Nosso enfoque neste texto será uma reflexão sobre uma destas variáveis, que pode ser arrolada como um importante fator desmotivador e, portanto, gerador de infelicidade e diminuição da qualidade de vida: a baixa autoestima.

As relações que estabelecemos em nossos locais de trabalho, com nossos colegas, chefes ou subordinados, estão muito mais atreladas com nossas vivências familiares e infantis do que na maioria das vezes gostaríamos de admitir. Obviamente, este assunto é muito amplo e impossível de ser esgotado em um único artigo. Por isso manteremos nosso enfoque na importância da autoestima.

A grosso modo, a autoestima é construída com base nos feedbacks positivos que vamos recebendo durante nosso desenvolvimento. Uma criança tratada com respeito e amor, incentivada positivamente, valorizada por seus atos e encorajada a tentar novamente ao cometer erros, dificilmente se tornará um adulto inseguro, para o qual as críticas tenham um papel avassalador. Porém, comumente, nas relações familiares, há uma forte exigência por perfeição. Muitas vezes, a baixa autoestima dos pais, faz com que estes “projetem” nos filhos seus próprios medos e sua ansiedade em relação ao “erro”, exigindo que estes não os cometam, acreditando que assim poderão tornar-se pessoas “melhores” que eles mesmos.

Há um grande equívoco deste raciocínio, pois todo o processo de aprendizagem se dá através de “tentativa e erro”. A criança aprende tentando, errando, tentando novamente, aprimorando-se durante este processo até conseguir realizar a tarefa que estava tentando desenvolver (o processo de aprender a andar ou falar pode servir-nos de ilustração).

“Errar é humano” – diz o ditado popular. Mas parece que, na prática, poucos de nós aprendem esta lição. Não é difícil entender porque uma pessoa que tenha sido continuamente repreendida neste processo tão próprio do desenvolvimento humano, torne-se insegura e tenha muito medo de “tentar”, justamente pelo temor de falhar, de cometer erros, acabando por incorrer no maior de todos os erros: o da inércia.

Nas relações profissionais, isto se reflete na forma de insegurança, dificuldades para lidar com a crítica (seja de chefias ou subordinados), incapacidade de separar questões profissionais das pessoais, expectativas muito fortes de aceitação ou rejeição por parte do grupo e maior suscetibilidade a tornar-se cronicamente estressado diante das pressões cotidianas e, por conseguinte, a cometer erros durante o processo produtivo.

Quando nossa autoestima está em baixa, qualquer situação adversa nos deixará arrasados e infelizes. Acreditamos que não somos capazes de ter sucesso profissional, nos taxamos como incompetentes e acreditamos que todos a nossa volta têm esta mesma imagem a nosso respeito. O efeito dessa visão sobre as relações torna-se desastroso, por gerar desconfianças, medos inúteis e poder conduzir uma pessoa com potencial de atingir o sucesso a viver continuamente relações de fracasso. Ou viver seu sucesso sobre o fracasso alheio, na forma de desvalorização do outro, gerando situações desmotivadoras para os outros e para si no ambiente de trabalho.

Há saída para isto? Não existe uma fórmula mágica. Mas, o primordial é a pessoa perceber-se e atuar na busca de solução sempre a partir do conhecimento de si, observando-se e às suas “reações”, bem como as respostas do grupo de trabalho e familiar, buscando ajuda nas relações afetivas e, em alguns casos, num processo psicoterápico, capaz de lhe proporcionar continente para efetivar mudanças em suas atitudes. Este processo pode ser lento e longo, mas capaz de proporcionar a construção de nova forma de relacionar-se consigo e com o outro, que gere maior satisfação pessoal. O maior desafio? Dar-se ao direito de tentar.